Era uma vez quatro amigos. Eles se conheceram há pouco tempo. De idades (e vivências) variadas, vieram de diferentes lugares do Brasil e estão agora em Portugal. A história deles começou no início deste ano, quando ainda nem se conheciam. Todos se candidataram ao processo seletivo do doutoramento em Direito da Universidade de Coimbra e foram aprovados. Ainda no Brasil, viveram a ansiedade e sentiram na pele as dificuldades (burocráticas e emocionais) dessa, então, futura mudança.
Um deles, o qual conheço bem de perto, sentiu suas pernas tremerem e seu coração quase sair pela boca quando viu seu nome entre os aprovados. Quanto aos demais, não posso dizer o mesmo, mas se levando em consideração a mudança que isso implicaria em suas vidas, algo de parecido deve ter-lhes acontecido.
Por razões que só o destino conhece, a relação entre eles começou logo nos primeiros dias de convivência no doutoramento. Dentre mais ou menos sessenta doutorandos, eles logo se aproximaram e começaram uma incipiente amizade. A vida às vezes faz acionar um magnetismo que atrai aqueles que, por razões igualmente desconhecidas, deveriam de fato se aproximar.
De onde brota uma amizade? Sem que haja qualquer necessidade de convivência por razões de toda ordem (familiar, profissional,...), vemo-nos com uma imensa e satisfatória vontade de estar juntos e (con)viver momentos felizes e, por que não, também tristes com essas pessoas que, assim como tantos outros rótulos nessa vida, recebem a vulgar denominação de "amigos". Conheço uma pessoa que fala que "os amigos são os eternos namorados". Sempre achei essa frase sensacional, pois revela uma possibilidade de se compartilhar uma modalidade de amor que prescinde de sexo, cobranças, compromissos... Enfim, um amor gratuito, que se mantém pelo simples fato de se querer bem alguém, de se estar (e ficar) feliz com a sua presença. É certo que muitos exigem da amizade iguais retribuições que os namorados (por convenção) se exigem. Coisas que a psicanálise resolveria bem! Mas amizade boa, verdadeira, é gratuita. Existe porque o que une os amigos (verdadeiros) é apenas a vontade e o inexplicável magnetismo que a vida faz acontecer.
Mas voltando aos quatro amigos desta história, importante e interessante notar que eles poderiam não ter se aproximado. Aferir o porquê isso se deu vai além de qualquer ciência. Não é nessa área que isso se opera. Em pouco tempo, eles estavam se comunicando por celular (ops, telemóvel) e marcando encontros, jantares e viagens. Com mais alguns dias de convivência, criou-se aquilo que Lygia Fagundes Telles falava sobre o que acontece com os amantes (com o tempo vejo aquela frase que citei quase que como uma profecia): logo havia entre eles algo como que uma "estrutura da bolha de sabão". Algo frágil, sutil, delicado, que os envolvia, protegia e, ao mesmo tempo, não os impedia de serem livres para serem o que quer que desejassem. Se algo desse errado nessa empreitada, quando estivessem juntos, essa "estrutura da bolha de sabão" os protegeria como se fosse aço. Mas por inconsequência ou desídia, um leve toque os deixaria novamente expostos à radiação de uma vida sulfúrica e árida. Ciência realmente não é um campo de compreensão que se aplica aqui...
Essa estrutura cria igualmente uma cumplicidade que dá gosto de ver. Em pouquíssimo tempo passaram a falar de coisas que lhes eram igualmente engraçadas, (des)interessantes e banais. Estavam rindo de assuntos e pessoas de forma deliciosamente irresponsável. Passaram a se sentir íntimos e à vontade para, inclusive, ficar em silêncio entre eles. Ah, eu, particularmente, acho isso uma das melhores coisas em uma amizade verdadeira: a possibilidade de se ficar em silêncio perto de outra pessoa. Sem precisar se explicar e nem puxar qualquer assunto. Um silêncio que não constrange, mas conforta. Quando isso ocorre, a cumplicidade passa então a ser plena.
A história desses quatro amigos tem apenas um mês e meio. Já ouvi dizer que há amizades de uma vida inteira. Não duvido, pois conquistei amigos que tenho certeza absoluta que me acompanharão por toda a minha vida. Para esses quatro jovens, desejo igual sorte.
E o melhor de tudo: o que os une não exclui nem limita nada. É uma relação constantemente aberta, pronta para se tornar uma nova história. Quem sabe, daqui a um tempo eles contem para novos amigos que durante o doutorado "éramos seis", sete, dez... Afinal, o que todos nós desejamos dizer sempre (com peito aberto e mãos para cima a acompanhar o refrão) é "eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar".
Mais um texto a nos levar a reflexão. Como são importantes os amigos, verdadeiros, gratuitos, aconchegantes, a nos acolher em qualquer circunstancia, sem muitas perguntas sem nenhuma cobrança. Voce conhece muito bem essa arte.
ResponderExcluirCelia Abreu
Lindo texto!!!
ResponderExcluirSaudades e muitos bjs
Silmara
titio eu tambemtenho minha melhor amiga que é a malu e ela dormiu na minha casa de dia 19/11 ate o dia 20/11!!!! FALTAM 33 DIAS PARA EU IR NA SUA CASAAAAAAAAA!!!!!!!!!
ResponderExcluirANA LUIZA AZEVEDO SILVEIRA!!!
Ana Luiza, o titio está preparando tudo para receber vocês com muito carinho, balas e outras coisas gostosas. Beijão!
ResponderExcluir"Um silêncio que não constrange, mas conforta. Quando isso ocorre, a cumplicidade passa então a ser plena."
ResponderExcluirAchei isso bem bacana, muito bom o texto. Abraços.
João Paulo.
Irretocável! Palavras desnecessárias, apenas contemplação! Parabéns!
ResponderExcluirBárbara
Gostei do texto.
ResponderExcluirFernando Pessoa, dizia: "Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria"
Curta com sabedoria, essas novas amizades.
Abraços,
Rosa Maria Campos
Sentimento como nenhum outro. Sem interesse e dado de graça(por mais que todo ser humano tenha algum tipo de interesse).
ResponderExcluirTenho alguns que conheço desde pequenininho e outros que estão aparecendo com o tempo e que também tenho certeza que caminharão juntos comigo para sempre.
Parabéns por mais um relato incrível e mande um abraço para esses 4 amigos!
Amigos...pessoas especiais, singulares e autênticas, para confortar a saudade de casa e compartilhar momentos, experiências inesquecíveis. Você meu amigo, já faz parte da minha história...
ResponderExcluirAmigo, muito feliz por ter encontrado pessoas especiais nesta experiência ímpar em nossas vidas. Todas as aflições, diversões e risadas serão eternamente lembradas. Parabéns, por mais um excelente texto. Grande abraço!!!! Ricardo Guilherme.
ResponderExcluirSilvagner, gosto muito dos textos de vc escreve. Ler o seu blog faz com que me sinta mais perto do Ricardo, acompanhando-o em suas alegrias, apreensões e novas amizades. Espero poder conhecê-lo no fim do ano. Thays.
ResponderExcluirGrande Silvagner!
ResponderExcluirParabéns, em primeiro lugar, pela ideia do blog que nasce com este nobre, interessante e difícil propósito de comunicar sensações, atmosferas e sentimentos! Não é para qualquer um! Segundo, pelos textos muito bem escritos e a partir da utilização do mais interessante dos "métodos" literários: a inexistência de método, ou, como disseram em um comentário anterior, "apenas contemplação".
E me sinto privilegiado por poder, diante de eventuais dúvidas interpretativas quando da leitura dos posts, recorrer, com facilidade, à intentio auctoris!
Forte abraço e boa sorte!
Alcimor Rocha Neto