domingo, 23 de dezembro de 2012
Corações Amaralados
Amaram-se no cais
de um tempo feliz
onde amar era futuro.
Para onde partiam os dias
em rodopios, inebriantes,
a embalar os amantes,
fazendo-os acreditar
que o tempo é brincar.
Mas corroídos de paz
e de prazer fugaz,
amam-se em cômodos dias,
ciente das horas, carentes de mais.
Consumidos e reféns,
os amantes resistem.
O olhar cúmplice suplica
o amor, que outro explicito, agora é tácito.
Agora é tarde:
resta-lhes o clarão
aberto pelo fogo
que um dia foi paixão.
Das chamas restou apenas chão.
por onde pisam pés doloridos,
corações partidos, em outra direção.
Um encontra outro cais, onde, com receio de navegar, ancora seu coração.
O outro insufla o ar, dor de dias amarelados.
Num voo para o precipício da amores sepultados,
rufla seu coração amado, alado, calado.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
O tempo da voz
Uma força estranha anuncia:
quanto tempo tem a melodia
que embala a letra da canção?
Nada importa! Latente é a emoção.
De repente o arrepio ao ouvir sua voz
Diz-me que o tempo é apenas veloz.
Separa o hoje do ontem e do após.
No calendário sem data,
o que é atroz o tempo mata.
Perene e fatal é a voz aguda de Gal.
Penetra e toca nossa alma tropical.
Força Estranha - Gal Costa (*)
(*) Link da gravação do show "Maria da Graça Costa Penna Burgos", de 1981.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Máscara d'água
Enverga a máscara cuja marca lhe conforma a alma.
Por demasiado usá-la, pensa ser aquele que encena.
No palco de um teatro insano, os outros são o tema
de uma peça que teima em cobrir-lhe a face oculta.
Com a cortina sempre aberta
não percebe a encenação bufa.
Até então tudo é verdade e cena.
Esquece-se da máscara, é a persona.
Mas o ato se encerra e a cortina fecha.
No camarim de espelho e lâmpada
não se vê o reflexo escondido.
Desmascarado, tudo fica amorfo e ridículo.
Melhor é pô-la novamente.
O público clama pelo avatar que mente.
Ei-lo, com uma máscara na alma
e na face um espelho d'água turva.
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