domingo, 17 de junho de 2012

Casamata


Na madorna da noite insone
regressei ao vilarejo imaginário.
Aquele onde um dia estive,
no desvão de uma mente frágil.

A rua que o atravessa
sai de mim e vai ao nada.
Não há placa que indique
o fim nem a chegada.

Fica longe, tão longe, que lá chego desfeito.
Vejo que nas casas toda a gente já não está.
Pergunto então ao prefeito
o que se deu por lá.

Disse que todos, do padre ao pedreiro,
saíram e puseram-se a andar.
Na avenida de margem infinita
sumiram para não mais voltar.

Ao perguntar o motivo do desvario,
vi que o prefeito, legitimamente eleito,
sozinho, sem povo e sem palanque,
discursava aos bichos de modo elegante.

O que deu em todos que nessa vila habitavam?
Cansaram-se das regras cotidianas?
Ao entrar numa casamata, vi um lar de plantas.
No chão de raízes e no teto de folhas procurei por vestígios.

Mas nada havia, além da harmonia.
Um tronco era o pai de família.
A seiva, mãe de filhos verdes,
alimentava a prole faminta.

Sem respostas ao enigma,
regressei à rua deserta, onde tudo ainda é mistério.
Surpreendi-me com um menino,
a brincar com pedras na margem do rio.

Sentei ao seu lado.
Ele não notou minha presença.
Brincava como se nada estivesse errado.
Sozinho, entretinha-se em seu mundo de criança

A inocência e a natureza,
era o que havia no vilarejo inaudito.
De tudo restou a pureza.
Acordei, e agora a cidade perde o sentido.


Caminho de Santiago - Maio/2012

3 comentários:

  1. Meu caro Silvagner, são lindos os seus devaneios, e acho que mais lindo ainda seria este sonho, no divã de um analista... Parabéns por estas novas incursões no terreno da poesia! Adoro! Georgina Ramalho.

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  2. Não entendo muito de poesia, mas aprecio as que me inspiram a imaginação e trazem musicalidade nas palavras. Parabens! Pelo visto esse caminho tem mesmo muitos misterios a desvendar.Beijos e bom domingo.
    Celia Abreu

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  3. Que linda as poesias eu estou em vitória te esperando te amo e adoro vc!BJS Ana Luiza

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