Terça, 18 de junho de 2013, às 12:06h.
De repente, o Brasil, que sempre foi o país do futuro, decidiu ser o país do presente. E, ao vê-lo grotesco, sem filtros, percebeu que o futuro é agora, bem ali na esquina.
Terça, 18 de junho de 2013, às 19:11h.
Com seus escudos da tropa de choque, a polícia ergueu um enorme espelho no meio da Avenida Paulista. Nele, a sociedade brasileira viu-se refletida na sua cultura de violência; no seu discurso embotado de que "bandido bom é bandido morto", de que "direitos humanos são para humanos direitos"; no violento, porém popular Capitão Nascimento, com suas “eficazes” técnicas de “combate” ao crime; no midiático "polícia tem que descer a ripa em bandido". Enquanto o espelho estava cotidianamente voltado para as periferias, longe dos holofotes, a lógica era “aceitável”. Mas lá no meio da avenida, com a câmera ligada, estudantes mostraram flores ao espelho de aço, em protesto pacífico à violência desmedida. A polícia, por sua vez reflexo da sociedade de onde saiu e convive, não respondeu com igual delicadeza. Quem sabe quando o espelho refletir imagens mais humanas da sociedade brasileira, com cidadãos e policiais mais consciente dos seus direitos e deveres, talvez aí tenhamos reflexos civilizados.
Terça, 18 de junho de 2013, às 22:18h.
Já que "vinte centavos" virou metáfora para tudo, acrescento mais uma: não é apenas por vinte centavos, é por uma NOVA POLÍCIA: que respeite e proteja o cidadão e não o poder político que a controla; que não teime em usar de forma irresponsável a força que lhe é legalmente autorizada; que seja responsável e preste contas dos seus atos perante a comunidade na qual atua; que tenha seus profissionais respeitados, treinados e bem remunerados; que se envergonhe das fotos e vídeos em que covardemente outros policiais abusam do poder que lhe foi investido ou usam-no de forma amadora; que se orgulhe em prestar rotineiramente um serviço tão essencial e caro à sociedade, a segurança; que se empenhe na profissionalização desse serviço, evitando amadorismos inadmissíveis e vexatórios.
Não são vinte centavos, são anos de mudança. Espero que ela se inicie com esse surpreendente despertar da população brasileira para os seus reais problemas.
Quarta, 19 de junho de 2013, às 13:40h.
“- É uma revolta?”
“- Não, Majestade, é uma revolução.”
(Diálogo entre Luís XVI e o duque de Liancourt, após a queda da Bastilha)
Quarta, 19 de junho de 2013, às 22:58h.
Como o mundo não começou ontem, é bom (re)lembrar.
O povo tomou as ruas, em 1984, clamando por eleições diretas para presidente. Conseguiu!
Em 1992, os "caras pintadas" pediram a saída de um presidente. Conseguiram!
Neste ano, milhares saem às ruas pelos metafóricos 20 centavos. Conseguiram!
E agora? E depois? E antes? Tudo como dantes no quartel d'Abrantes?
Se no princípio era a metáfora, é preciso então que ela se faça verbo: votar, respeitar, fazer, exigir, cumprir, defender, trabalhar, não-roubar, não-corromper, não-subornar, estudar, amar (mesmo com a ameaça de Feliciano), [...] e, principalmente, protestar. Ah, e com sujeito e predicado bem definidos. Não é política nem nada. É questão de gramática mesmo.
Sexta, 21 de junho de 2013, às 13:08h.
Ei, você que acordou indignado com a ênfase dada pela mídia à violência, praticada por uma minoria durante os protestos, manchando a legitimidade da causa da maioria. Aconteceu, e acontece todo dia, com a polícia no seu legitimo e necessário, porém complexo, poder de usar a força para manter e lei e a ordem.
Bem-vindo à lógica da imprensa e do senso comum: toma-se a minoria, ou comportamentos desviantes, e dá-lhe o sentido do todo. O porquê disso? No caso da primeira, sensacionalismo e intenções ocultas. Na segunda, preguiça de pensar.
A violência não tem "lado"; é sempre aviltante e, infelizmente, parte da natureza humana. A aceitação a ela e a forma de controlá-la, isso já é outra história.
"O difícil não é fazer, mas controlar uma revolução." Honoré Gabriel Riqueti de Mirabeau
Sexta, 21 de junho de 2013, às 13:08h.
Diante de tantas bobagens ditas por aí, não custa lembrar: há três poderes, cada um com competências próprias; a Dilma preside um deles, em nível federal. Ela não pode, e nem deve, fazer tudo. Isso seria uma ditadura. Além disso, 500 anos de problemas não se resolvem em 5 dias. Parcimônia, conhecimento e clareza nos pleitos. O gigante não acordou, nem nunca dormiu em berço esplêndido. Ele talvez esteja nascendo. E ainda falta ensinar-lhe a andar.
Sábado, 22 de junho de 2013, às 12:55h.
Mais duas da série "o que você precisa saber para não ser um cidadão que fala irrefletidas besteiras":
1) #foradilma, só após a próxima eleição presidencial. Antes disso, é golpe de Estado ou impeachment. O jogo, ainda bem, tem regras;
2) Joaquim Barbosa não é político nem nunca se mostrou interessado em concorrer à presidência do executivo federal. Estamos querendo mais um salvador da pátria? Basta ler as páginas de qualquer livro de História. Sempre acham um em momentos de crise. Apenas um exemplo: aqui em Portugal, há alguns anos, escolheram um competente jurista para ser Ministro das Finanças. Como ele conseguiu sanar as dívidas do país, colocaram-no na função de chefe de estado. Salazar governou ditatorialmente por cerca de 40 anos.
Sábado, 22 de junho de 2013, às 12:55h.
G1 – Portal de notícias: Dilma diz que apoiará plebiscito para Constituinte exclusiva da reforma política e afirma que "iniciativa fundamental é nova legislação que classifique a corrupção dolosa como crime hediondo, com penas severas".
Prezada presidenta, sei que a senhora não é do Judiciário, mas tem um cara que viveu lá no século XVIII que tem um recado pra senhora: "os crimes são mais efetivamente prevenidos pela certeza das penas do que por sua severidade." Cesare Beccaria
Quarta, 26 de junho de 2013, às 13:11h.
Democracia não é e não pode ser exclusivamente fundada na regra da maioria e na liberdade absoluta de expressão. A maioria precisa de limites ao decidir e ao falar. Muitos pensam que democracia é a voz "cega" da maioria. Mesmo Sócrates desconfiava dessa concepção. À época, os sofistas – famosos pelos argumentos capciosos usados para enfraquecer o verdadeiro, em favor do falso, dando-lhe aparência de verdadeiro, – sabiam muito bem manipulá-la em proveito próprio e escuso. Mas ainda hoje uns teimam em desconsiderar os séculos de aprendizado histórico que nos separam de Sócrates. Não precisamos mais de cicuta. Ou melhor, desenvolvemos antídotos. Senão, de que servem a tripartição dos poderes e os direitos humanos? Servem para evitar a opressão histórica das maiorias que, num passado muito recente, desconsideraram (ou exterminaram) a existência de minorias. Sim, parece incrível, mas mulheres, negros, judeus, índios, ciganos, deficientes, homossexuais; todos já foram, por suas respectivas condições, considerados ou não pertencentes à raça (sic) humana ou cidadãos de segunda classe. Oh, wait... parece que alguns ainda são.
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