Amaram-se no cais
de um tempo feliz
onde amar era futuro.
Para onde partiam os dias
em rodopios, inebriantes,
a embalar os amantes,
fazendo-os acreditar
que o tempo é brincar.
Mas corroídos de paz
e de prazer fugaz,
amam-se em cômodos dias,
ciente das horas, carentes de mais.
Consumidos e reféns, os amantes resistem.
O olhar cúmplice suplica o amor,
que outrora explicito, agora é tácito.
Agora é tarde:
resta-lhes o clarão
aberto pelo fogo
que um dia foi paixão.
Das chamas restou o passado,
onde pisam nas brasas de lembranças felizes,
fulminadas pelo tempo que não as quis mais presentes.
Sobre as cinzas procuram outra direção.
Um caminha de volta para o cais do amor, onde,
com receio de novas tormentas, ancora seu coração.
Intoxicado do ar – dor de dias amarelados –,
O outro posta-se diante do precipício dos amores sepultados,
Decidido a por fim em tudo aquilo, atira-se num salto.
A queda foi suave, nas asas de seu coração alado, um dia amado.
Desde então respira bem.
Mas o tempo, que no passado era amar,
demorou a com ele novamente brincar.